Questão II


  Como os elementos da modernidade (telefone, alta costura, trem de ferro, bondes) foram  incorporados e utilizados no espaço urbano da Paraíba no início do século XX?


“Do Porto do capim a noticia aqui chegava,
o moderno está no mundo,e o telefone falava!
A Paraíba investe seu dinheiro na modernização,
é preciso trabalhar,vamos ficar atrás não!”
  
            A partir do texto de waldeci Chagas, observamos que embora a Paraíba não tenha vivenciado o mesmo processo de desenvolvimento econômico e consequentemente de industrialização, vivenciou a mesma experiência de São Paulo e Rio de Janeiro. A modernização e urbanização da capital paraibana foi resultado da nova realidade econômica, mas essa modernização esta ligada também com as questões culturais, as novas maneiras que os indivíduos encontram para mudar o espaço em que estão ligados.
No início do século XX já com os meios de locomoção desenvolvidos para a época, como os bondes e os trem de ferro, passou o espaço paraibano a respirar os ares da modernidade, era através desses meios de transporte mais propriamente com a saída e a chegada, os embarques e desembarques das mercadorias por eles transportadas que as pessoas podiam ter acesso não só apenas aos produtos, mas também as informações, já que era o trem que trazia os jornais de circulação do Recife e do Rio de Janeiro, e com eles noticiam políticas sociais e culturais que ocorriam nessas cidades.
No decorrer de toda a transformação urbana que vinha passando o espaço paraibano, as pessoas que detinham de uma condição social especial, não queriam apenas, como afirma Chagas, ”vestir” as cidades paraibanas com a modernização, mas também queriam se “vestir”, no sentido próprio da palavra, com características quer os tornavam homens urbanos e modernos, é quando entra em cena a alta costura, aos moldes e padrões de cidades como o Rio de Janeiro, que por sua vez, pode-se dizer, já imitavam os parisienses. Estabelece-se na Paraíba, uma busca e implantação dos símbolos modernos, inaugurados na Europa, incorporados em grandes centros brasileiros, como Rio de Janeiro, e assimilados pela elite paraibana para refletir-se moderna.
Ser um cidadão paraibano que estava acompanhando a modernidade em início do século XX, era se comportar adequadamente nos lugares sociais, estiver sempre com boas roupas, e possuir residência na área central da capital, e por ultimo e talvez o mais importante consumir os produtos de luxo que eram importados da Europa. Consumir os produtos parisienses fazia o homem paraibano se sentir civilizado.
Uma ferramenta mestra para o espaço paraibano se torna moderno em princípios do século XX eram as vitrines, os lojistas abusavam da propaganda para que a cada dia suas lojas se tornassem o centro da arte de se vestir, como afirma waldeci Chagas “para os lojistas, não importava a forma de acesso à informação; o importante era que os clientes adquirissem os artigos expostos na vitrine”.
Frequentar as lojas e fazer compras, nesse contexto, deixa de ser um serviço de mucamas de outrora. Para Chagas aos poucos esses novos hábitos vão sendo incorporados ao cotidiano de mulheres “decentes”, que acompanhadas de suas filhas casadoiras e de um carregador, passaram a visitar com mais frequência a rua onde se localizavam as lojas especializadas na moda feminina, para que pudessem comprar seus “vestidos de seda e Chapéus de Cetim”.
É importante que se destaque o Bairro do Varadouro, que nessa época se tornou um dos importantes centros comerciais da capital, onde se localizavam lojas, clinicas, tabacarias, farmácias, livrarias e barbearias, possuindo assim um ritmo que se diferenciava das demais. Para Chagas “as casas comerciais e os serviços de embarque e desembarque de mercadorias garantiam ao Varadouro um movimento de capital considerável, pois neste bairro quase tudo se podia comprar ou vender”.
O Porto do capim nessa época além de ser considerado a porta de entrada de quem chegava a Paraíba, também trazia as notícias da capital da República e do mundo. Era através do Porto do Capim que os comerciantes recebiam os artigos de luxo vindos da Europa.
Os meios de comunicação impressos como os jornais, A Imprensa e A União, exerceram papeis relevantes na definição e propagação dos novos comportamentos.
A condição de moderno, não ficou apenas no habito de se vestir, mas atingiu as moradias, ocorrendo uma transformação dos sobrados de outrora em casas modernas. As novas casas além de satisfazer, o gosto de seus donos, seguiam também as orientações dos administradores públicos que recomendavam “a construção de casas salubres, arejadas, de tijolos e cobertas de telhas”, o propósito de todas essas orientações para o autor Chagas era “disciplinar o espaço urbano”.
A perspectiva dos anúncios da época eram sempre fazer homens e mulheres incorporarem ao cotidiano, hábitos e costumes considerados modernos, eram necessário deixar de lado praticas consideradas rurais, uma família que morasse na área central da cidade, tinha que mostrar o seu capital, através da modernidade, sendo o telefone  utilizado como um recurso para a melhoria da qualidade do serviço oferecido.
De uma maneira geral, os elementos advindos da modernidade, se incorporaram na Paraíba em principio do século XX,como uma forma de demonstrar o poder econômico que as pessoas elitizadas possuíam,seguindo os exemplos de Rio de Janeiro e Recife, os paraibanos desse contexto em discussão, sentem a necessidade de ser uma cidade “quase” europeia aos moldes parisiense, e para isso tinham a certeza que não bastava apenas o dinheiro “era preciso o sentimento de querer ser moderno e civilizar-se, o capital servira como o viabilizador dessa mudança”, e é através do dinheiro que os paraibanos incorporar aos espaços a alta costura, os bondes, e reformas urbanísticas da cidade.

Referencia Bibliográfica:

CHAGAS, Waldeci F. Urbanidade, modernidade e Cotidiano na Parahyba do Início do Século XX. In: ABRANTES E GUEDES. Outras histórias: Cultura e poder na Paraíba (1889-1930). João Pessoa: Edufcpb, 2010, p.39-66.
 

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