O progresso nas fotografias Paraybana (1870-1930)



O Progresso e a Emoção no ato de fotografar

    O texto da autora Maria Cristina Rocha Barreto “Olhar do passado vendo o futuro: o progresso nas fotografias da cidade da Parahyba (1870-1930”. A autora afirma que as ideias de progresso que vinham se desenvolvendo, alcançou seu clímax no século XIX.
       Os fundamentos do pensamento evolucionista surgiram na idade média, porém alcançou maior aceitação no século XIX, com a consolidação do método cientifico. É nesse clima que a antropologia se constitui enquanto disciplina autônoma, sua tarefa seria a de explicar ao mesmo tempo a universalidade e a diversidade das técnicas.
 A noção de progresso envolvia alguns pressupostos que se sobrepunham uns aos outros a partir do século XVIII, são eles: liberdade e o poder. A liberdade para os pensadores iluministas seria como um direito sagrado, já o progresso seria um constante avanço da liberdade individual que seria comprovada através do conhecimento e do domínio do homem sobre a natureza.
Para a autora “aonde chegava à modernidade criava-se um deslumbramento e, ao mesmo tempo uma perplexidade”. Nesse contexto vemos o papel da fotografia “de representar, com sua fragmentação as coisas da modernidade” proporcionando “um bom respaldo para se produzir um relato”.
As fotografias da Paraíba, consideradas como fontes para o seu trabalho são as de Walfredo Rodrigues (1994) escritor, fotógrafo e cineasta paraibano, são fotografias que pertencem ao acervo construído por Walfredo Rodrigues ao longo da vida. Em Walfredo Rodrigues vamos observar a tristeza pelo desaparecimento do ambiente natural, área verde do inicio do século.
Outra fonte utilizada é a de Coriolano de Medeiros, para Maria Cristina “ambos os autores são fundamentais na compreensão do progresso da Paraíba desde fim do século passado até as primeiras décadas deste”.
A partir do texto em discussão vamos perceber que a realidade retratada na fotografia, não é aquela que é, mas a que deseja ser. Até 1910 muito mais que o espetáculo fotográfico, a burguesia paraibana, parecia apreciar os espaços mais leves e novos que a cidade começava a apresentar de forma generosa, e até as fotos retiradas no ambiente interno das casas se procurava os lugares e posições melhores, vejamos na foto a seguir:


 



Fotografia oferecida a Zefinha Leite por D. Zóia (sentada) e D. Lídia (de pé). Tirada e produzida por Miguel Guilherme, cujo logotipo das iniciais foi colocado no desenho em segundo plano. Foto do acervo da família Miguel Guilherme. Observamos na mesma o cuidado em serem retratadas em uma boa posição e por trás das mesmas uma parede bem decorada.
 Observamos no texto de Maria Cristina referencias a construção do Porto do Varadouro, pois as fotografias tiveram um importante papel no sentido de manter informado o presidente Epitácio Pessoa sobre sua construção do porto. No entanto segundo José Joffily sua autenticidade é discutível, no que diz respeito à construção do porto a fotografia atuou como forma de enganar o então presidente, demonstrando assim que a “noção de veracidade carregada pela fotografia desde o seu inicio é uma falácia”.


Momento riso



O então presidente Epitácio Pessoa, decidiu vir à Paraíba para ver pessoalmente como estava à construção do porto do Varadouro, ao chegar à capital percebeu que todo o investimento estava pode-se dizer sendo desviado, pois a construção caminhava a passos lentos. Ao se dirigir a um dos trabalhadores da obra perguntou: porque esta obra esta quase parada, se nas fotografias para mim enviada estão em ritmo acelerado, o trabalhador meio “encabulado” responde: oh senhor presidente é porque o progresso só chegou às fotografias. 



O que há por trás de um retrato de família?


 
Discutimos um pouco sobre o progresso e as transformações a partir das fotografias de ruas, monumentos e espaços urbanos, mas Bertrand de Souza Lira encontra no “retrato de álbuns de família e mais tarde nas colunas sociais a fonte principal de sua pesquisa. É nele, mais do que qualquer outro tipo de registro, que se insere a história da fotografia. É através dele, também, que se pode estabelecer um pouco o itinerário dos fotógrafos pelas terras do Brasil, e da Paraíba, nos primeiros anos da fotografia no país. São ainda, através dos retratos, que se podem elucidar as inter-relações entre fotografia, fotógrafos e elites locais. Além do que, através da conservação em mãos de familiares, os álbuns de família não só trazem as marcas dos fotógrafos e da fotografia, mas também contam uma história da intimidade e uma história social das grandes famílias brasileiras e paraibanas...” (MAURO GUILHERME PINHEIRO KOURY).



Vemos na foto acima a recordação de um álbum de família, onde podemos observar dois casais que se pode dizer deveriam ter algum laço de parentesco ou amizade, percebemos como o progresso influenciou as vestimentas, na foto de época vemos as noivas bem comportadas, com uma boa postura e do mesmo modo os maridos, se pegarmos qualquer foto atual de algum casamento vamos observar que os vestidos de noiva são mais provocantes e sensuais, não fazendo uso de muitos panos como na época da foto em destaque.

Exclusão social


Os fotógrafos da Paraíba ao tornarem-se, por excelência, cronistas de uma classe específica, aquela que estabelecia os padrões de beleza, escolhendo de acordo com esses padrões os lugares, os fatos e as pessoas que “mereciam” ser fotografados, conferiam ás fotografias um papel moral e reconstruíram a realidade a partir delas.
A partir dos primeiros anos do século XX, sente-se com maior nitidez o encantamento da sociedade local com o progresso e, consequentemente, com sua documentação.
Fotógrafos eram contratados para registrar as reformas urbanas e os espaços da burguesia. Excluía a pobreza simplesmente porque esta não se cogitava como temática, negando sintomaticamente seu papel de sujeito. Observe a foto na sequência, que esta demonstrando a pobreza da Paraíba, a qual era retirada das fotografias do século XX.


Sendo assim, o espaço fotográfico constrói pouco a pouco a imagem de uma cidade higienizada onde predomina a ordem, excluindo qualquer elemento que venha a perturbá-la. É o “museu imaginário”.


Nada parece estar fora de lugar ou indicar movimento. Mesmo conservando ainda seu aspecto colonial, as vidas da cidade parecem indicar que ordem não se choca com o progresso pretendido.


Referência Bibliográfica :

BARRETO, MARIA Cristina Rocha. Olhar do passado vendo o futuro: o progresso nas fotografias da cidade da Parahyba (1870-1930). In: Kouri, G. Antropologia da Emoção. Ensaios Críticos. João Pessoa, Grei, 2004, p. 92-125






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